sábado, 24 de janeiro de 2015

BDpress #452: MUSEU HERGÉ CANCELA HOMENAGEM AO CHARLIE HEBDO





MUSEU HERGÉ 
CANCELA HOMENAGEM 
AO CHARLIE HEBDO

Público, 23 Janeiro 2015

Luís Miguel Queirós

Para não colocar em risco os funcionários da casa e os habitantes de Lovaina-a-Nova, director do museu suspendeu homenagem

O Museu Hergé, na povoação belga de Lovaina-a-Nova, decidiu cancelar uma exposição de homenagem ao jornal satírico francês Charlie Heb­do, cuja inauguração estava previs­ta para ontem. O director do museu dedicado ao criador de Tintin, Nick Rodwell, esclarece que a decisão foi tomada por razões de segurança, e admite que a exposição poderá ainda vir a abrir, "se o nível de alerta dimi­nuir nos próximos dias ou semanas".


O anúncio do cancelamento foi feito na sequência de uma reunião de Rodwell com o presidente da Câ­mara de Lovaina-a-Nova, Jean-Luc Roland, e responsáveis da polícia, que expuseram as medidas de segurança excepcionais que seria necessário pôr em mar­cha se a exposição abrisse na data prevista, e que alertaram ainda para os riscos que o pes­soal do museu e os próprios muní­cipes correriam.

Já depois do ataque de dia 7 ao Charlie Hebdo, que fez 12 mortos, as forças de segurança belgas des­mantelaram no dia 15 uma célula jihadista (sem ligação conhecida aos irmãos Kouachi, autores do atenta­do em França), que incluía alguns elementos acabados de regressar da Síria e que pretenderia cometer vários atentados no país. A operação policial decorreu simultaneamente em Bruxelas e noutras localidades belgas, designadamente Verviers, onde dois jihadistas foram mortos num confronto com a polícia.

A ideia de fazer esta exposição, "uma homenagem de Hergé, que foi também caricaturista, aos ca­ricaturistas assassinados", surgiu "espontaneamente", conta Rodell, logo após o massacre de 7 de Janeiro. Mas o director do museu reconhece agora que foi "um pouco ingénuo" e agradece à polícia e ao autarca de Lo­vaina-a-Nova que o tenham alertado para os perigos que a exposição po­deria implicar. "O Museu Hergé não existe para atiçar o fogo", diz Rodell, acrescentando que "seria inconcebí­vel expor ao mínimo risco" tanto os funcionários da instituição como os habitantes de Lovaina-a-Nova.

Um desenhador que estaria repre­sentado na exposição, Nicolas Vadot, concorda que houve "precipitação" do museu e que este "não escolheu o melhor momento", quando o pa­ís acabara de aumentar o nível de alerta. Mas também acha que, não existindo uma ameaça concreta, a solução agora encontrada pode comprometer a imagem do museu. "Uma exposição contra a censura que se autocensura quando não exis­tia uma ameaça é problemático", diz Vadot, concluindo: "Isto quer dizer que os terroristas ganharam". É bem possível que Tintin, o jovem e valente repórter criado por Her­gé, sempre pronto a meter-se em arriscadas aventuras para defender a causa da justiça, tendesse a concor­dar com Vadot.


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